Mais que um amor de segunda-feira. (final).


                                                                  Foto.


Antônio começou a atravessar a rua, de uma maneira um tanto desajeitada, é bom que se diga. Antônio atravessou de modo apressado, mas ressabiado; esqueceu-se até de olhar para os dois lados, o coitado. O desconcerto é um efeito colateral de se estar apaixonando (ou de estar apaixonado). E Antônio sabia disso, em seu âmago, mas havia esquecido... Então eis que surge a moça e o faz relembrar o desembaraço que causa essa coisa de amar.
Antônio chegou a mesa da moça, onde ela, sorridente, lia. Antônio limpou a garganta e disse um “Bom dia!” tão baixo, tão acanhado, que a moça achou ter ouvido um simples chiado. Foi, então, que levantou a cabeça e viu Antônio ali parado, ao seu lado, um tanto embasbacado. Ela perguntou se ele havia dito algo; ele, repentinamente, ficou gago e, depois de um tempo atropelando as palavras, finalmente deixou sair : “Não, eu só disse ‘Bom dia’ e queria saber o que você estava lendo até a minha interrupção. É que observei que você lia com tanto gosto, com um sorriso tão bonito no rosto. É... Quer dizer... Não me leve a mal... É... Eu só achei que... Que poderíamos conversar um pouco e... Tomar um café. Eu adoro livros. E... sorrisos. E o seu é tão lindo...”. A moça não se limitou a sorrir dessa vez. Não, depois dessa, digamos, declaração um tanto desengonçada, mas extremamente sincera e bonita de Antônio, ela gargalhou. Antônio estranhou e quase se ofendeu, por achar que ela estava rindo dele, do seu jeito, do seu encantamento por ela.

A moça que tinha por nome, pasmem!, de Antonieta, esclareceu que estava rindo não de Antônio, mas sim do modo desastrado, mas imensamente bonito com o qual ele se chegou a ela. Praticamente todos os rapazes eram indelicados quando o quesito era a paquera e se aproximavam dela sempre com aqueles papos furados, sem nexo, sem graça. E ela o achou tão lindo, tão meigo, tão fofo, que riu, mas riu porque se deparou com o possível amor de sua vida. E disse que sim, que queria conversar com Antônio, sobre livros, sobre música, sobre o universo. E disse que sim, que queria sorrir junto com Antônio numa mesinha de um café singelo ou em qualquer lugar do universo. Antonieta era apressada? Para a normalidade, sim. Sonhadora? Para a normalidade, sim. Mas, para o amor, não.

Em defesa de Antonieta, se faz essencial que se diga o seguinte: não se sabe bem como ou por que, ela sentiu, no fundo de seu coração, que tinha encontrado alguém especial, muito, mas muito especial. E, por mais clichê e água-com-açúcar que possa parecer, o amor é assim. Ele é clichê e acontece quando menos se espera, onde menos se espera.
Tal como aconteceu com Antônio e Antonieta, pode acontecer com você, leitor. A vida pode ser mágica, sim. Magicamente encantadora. Magicamente romântica. Magicamente apaixonante. O amor existe e se esconde numa mesa de cafeteria. O amor existe e se esconde numa esquina, que, quando você, leitor, a dobra, ele se aloja em seu peito. O amor existe e pode chegar a mim e a você quando estamos, distraídos, a ler um livro.






Mais que um amor de segunda-feira. (parte um).


Como a maioria das pessoas, Antônio não gostava das Segundas-feiras. Dois despertadores muito barulhentos tinham a função de tirá-lo de sua cama. Mas as coisas mudaram quando o carro do moço de olhos castanhos começou a dar problemas e teve que ser deixado na oficina. Foi numa manhã de Janeiro, enquanto esperava o ônibus, Antônio viu algo que chamou a sua atenção.
Do outro lado da rua, uma moça de cabelos longos, ocupava uma mesa da Livraria Café Love Books. Sua blusa listrada de preto e branco fez o moço sorrir bobamente, porque se lembrou de sua infância, época em que desejou ter listrinhas iguais as de uma zebra, pois era o seu animal favorito (e continua sendo, por mais que Antônio tenha vergonha de revelar isso). Ele ficaria um pouco mais ali, mas seu ônibus havia chegado, e se atrasar estava fora de cogitação.
No dia seguinte, Antônio pulou da cama bastante cedo. Tomou banho, se arrumou, bebeu uma xícara de café e mordeu um pedaço de torrada não muito crocante. Tinha pressa em sair de casa. Seus olhos ansiavam por ver a moça. Lá estava ela. Linda! Foi a primeira palavra que surgiu em seu pensamento.

O final de semana chegou rápido. Antônio recusou convites de jantar e ir ao cinema com os amigos. Queria seu sofá, um bom livro. Queria vê-la mais uma vez. Saiu de casa. A rua estava cheia, porém agradável. Pessoas conversando animadas, outras passeando com suas crianças ou cachorrinhos. Antônio foi andando com calma em direção à livraria, e já pensava no que diria a moça se a visse por lá. Chegou. Ela não estava, ficou desapontado, mas puxou uma cadeira mesmo assim. Uma menina de sorriso simpático se aproximou e anotou o seu pedido. Antônio esperou a moça de cabelo longo aparecer. Esperou, esperou e nada! Por fim, decidiu voltar para casa. Demorou a pegar no sono, mas quando conseguiu, sonhou. E foi com ela.


Era mais uma Segunda-feira. O relógio nem havia despertado e Antônio já estava de pé. Olhou-se no espelho, estava estranho. Não na aparência, mas por dentro. Lembrou-se de sua primeira paixão do colégio. A sensação era semelhante a que sentia naquele exato momento. Sorriu. Antônio saiu de casa completamente arrependido por ter exagerado no perfume. Mas havia tomado à decisão de falar com a moça. Chegou ao ponto de ônibus e lá estava ela. Cabelos brilhando por conta do sol. Um sorriso a cada vez que virava a página do livro que estava sobre a mesa. O bolinho intocado ao lado da xícara. Antônio viu o ônibus chegando, não entrou. Levantou-se. Era agora. Ele iria atravessar a rua e falar com a moça.




Um conto escrito por Erica Ferro e Joyce Carolini.


Continua...






E agora, hein? Será que Antônio vai ter coragem de falar com a moça? Bom, depois de escrever e apagar. E tentar mais uma vez... O conto ficou pronto! Amei escrevê-lo com a Erica. Foi bacana demais, querida! E quero inventar outros contos com você. É isso... Beijos e paz!

É seu aniversário!


                                       Eu não poderia dizer mais que isso!






Obrigada por editar a imagem, Jana!
Beijos! Paz!